Quero ser diferente. Mas não tão diferente. Até porque hoje em dia, ser-se diferente, é ser-se igual a alguém que é diferente. E consequentemente, esse diferente inspirou-se em alguém, para ser como é. Portanto, quando digo que quero ser diferente, é porque não quero ser igual à maioria. Não quero o mesmo trabalho aborrecido, ano após ano. Não quero a mesma rotina, dia após dia. Não quero a mesma vida, constantemente e até ao fim dos meus tempos. Não consigo ser como toda a gente, que vê numa ilha paradisíaca, um refúgio para um trabalho aborrecido e monótono. Não. Nem quero um dia acreditar, que trabalho e suo para poder viajar para um lugar qualquer, onde me tratem bem e me sirvam à mesa. Isso não. E também não quero encontrar prazer numa vida completamente improdutiva, apesar de rodeada por luxos compreensíveis e justificáveis. Quero uma família e quero a recompensa pelo meu esforço. Mas não quero viver apenas para isso. Quero criar, quero mudar.
E recuso-me a acreditar, que vou fazer o mesmo, todos os dias. Cada dia igual. Igual e igual. A vida é demasiado curta para se passar todos os dias a fazer o mesmo. E o mundo é tão grande, para nos basearmos apenas no nosso pequeno leque de variedade. Para passarmos um ano em completo desaproveito. Para desperdiçarmos a nossa vida, com…nada. Talvez por isso mesmo é que escrevo. Pela necessidade de ser diferente. Não pelo acto de escrever, porque hoje em dia todos são escritores, até um famoso qualquer sem cultura. Não. Mas sim pela criação e realização que é escrever. O criar alguma coisa, todos os dias diferente. Como escrever uma crónica. Sempre diferente. Onde transparecemos a nossa vida, a nossa percepção da realidade, em palavras. Palavras que guardamos. Quando escrevemos, documentamos o que vivemos, o que imaginamos, o que sonhamos. Deixamos algo para trás. E não apenas uma sombra de um ano de trabalho que acabou, mas que irá repetir, mais uma vez.
Entendo e admiro os actores. Também eles são capazes de serem diferentes. De viverem e conseguirem-se abstrair da monotonia da vida. Pois se num momento encarnam uma personagem doce e calma, no minuto segundo adoptam uma personalidade arrogante e explosiva. E em pouco tempo, voltam a ser eles mesmos. São capazes de se confundirem com o ambiente. Como camaleões no seu habitat natural. Conseguem estar sempre bem enquadrados, em qualquer lugar, em qualquer altura. E é isso que distingue um actor, de um trabalhador normal. O actor encarna alguém e volta a ser ele mesmo, assim que quiser. O trabalhador normal, não. Está preso a si mesmo para a eternidade. E se um dia está chateado e frustrado, sente-o à flor da pele. Pois o que sente, não é provocado. Não está a encarnar uma personagem. Sente-o à flor da pele. Não está assim, por culpa de uma personagem ou de um guião pouco interessante. Não. Sente-se mal. Por culpa da sua vida frustrante e cansativa. E ninguém o pode ajudar ou inspirar.
Contudo, encontro mais prazer em mim, que gosto de escrever, do que no actor que encarna uma personagem. Porque eu, serei sempre eu. Eu vivo a minha vida e transpareço-a em palavras. Eu digo algo que sinto, imagino e crio. O actor não. Ele vive a sua vida e vive a de outros. E não troco o prazer de escrever, pelo de podermos ser outra pessoa, outra personagem. Nem que seja por meros segundos. Gosto de mim mesmo. Não sofro de baixa auto-estima. Não preciso de me mascarar e de interpretar uma personagem para me satisfazer. Para ser diferente. E por isso mesmo. Escrevo, relato e divago sobre quem sou. O que vejo, o que entendo e o que vivo. Crio e cada dia sou diferente. Porque este momento é irrepetível. E esta sensação que me enche de calor e me arranca um sorriso sempre que a recordo é única. Impossível de comparar. Por isso, escrevo sobre o que sinto. Escrevo sobre quem sou hoje. E amanhã? Serei diferente. Serei uma nova pessoa. Serei uma nova alma, sem nunca deixar de ser a mesma. E continuarei a escrever. Continuarei a viver. Terei novos caminhos a percorrer. Novos textos. Novas sensações e emoções. Novas ilusões e novos mapas mentais. Mas continuo aqui. Vivo. A criar e a delirar com o prazer que é escrever.
24.09.08
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
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