Confesso que a esperança já morreu. Mas não posso transparecer isso. Não me posso deixar levar pelo sentimento. Tenho que dar cara de vencedor. Tenho de sobreviver ao inesperado. Tenho que parecer forte. Não me vou deixar abater. Vou continuar de pé. Mas a verdade, é que a esperança já morreu. E hoje estou aqui, não porque tenho força, mas porque ainda não tive a coragem de desistir. Sei que um dia vou morrer. E não temo esse dia. Temo apenas, o dia em que entender que vou morrer e que ninguém vai dar por mim. O dia em que não serei mais do que um anúncio no jornal, na folha dos obituários.
Não quero morrer incógnito. Gostava de me poder imortalizar. Mas cada vez mais acho tolo e impessoal, este desejo meu. O mundo recorda o bom, tão depressa quanto o mau. Muitos são capazes de mencionar ditadores violentos, psicopatas, assassinos, violadores, criminosos de toda a espécie. Todos eles serão recordados pela crueldade com que viveram as suas vidas. Uns mais que outros. Serão recordados com mau olhar pelos incultos, questionados e estudados pelos cultos e simplesmente ignorados pelos ignorantes. Mas têm um lugar na história. Isso é certo. Têm uma data marcada, no gigante mapa de um livro de história mundial. Têm o seu lugar na enciclopédia, cheia de hiperligações para as suas vidas, ideologias e atitudes enquanto seres vivos.
Talvez seja só eu a sentir-me assim, mas a verdade, é que não consigo mencionar o nome de muita gente que tenha praticado apenas o bem. Toda os nomes que me ocorrem tinham sempre algo mais na mente. Se uns lutavam pela liberdade, faziam-no apenas pela liberdade do seu povo e não pela liberdade mundial. E a liberdade plena pela qual lutavam, começava onde a de outros acabava. Se uns lideravam o seu exército no campo de batalha por uma causa justa, tinham apenas em mente a vitória e não a violência praticado sobre o povo vencido. E mesmo aqueles que passaram uma vida a praticar o bem, encontro pouco ou nada que os tenha motivado para agirem assim. Ocorre-me apenas uma recompensa monetária, um prémio anual ou um altruísmo extremo que sinto que não existe neste planeta.
Penso, cada vez mais, que os vilões são estudados até ao mais pequeno pormenor. E que os heróis são louvados, acima daquilo que representam. Os heróis que são lembrados pelo que fizeram em vida são sempre representados como altruístas extremos que só querem o bem. E a realidade não é assim. Muitos deles apenas obedecem a ordens. Não são tão bons quanto os pintamos. Mas cresci com histórias de heróis. Seres astronómicos, semi-deuses, cultos do além. E sempre procurei neles um exemplo a seguir. E não vejo no heroísmo um completo altruísmo. Não. Admiro tanto aquele que dedicou a sua vida à sua família, como aquele que combateu para uma nação que nunca teve tempo para amar. Porque ambos, com justa causa, são capazes de agitar as próprias fundações do planeta Terra.
Não me falem de um herói lendário, que o próprio nome me agita o ser. Não me falem de guerras e de momentos míticos. Não me fazem de gente em missões e em revoluções. Acredito que qualquer um pode ser um herói, se tiver uma batalha para combater. Uma batalha justa e honesta, onde um homem faça a diferença. E onde a recompensa não é representa por um metal raro ou uma bandeira colorida. Não. Apenas uma batalha. Um combate. Uma disputa. Mas hoje não há guerras deste género. O mundo foi reduzido a um destino sem retorno. Cada um satisfaz-se com o que tem. Ninguém ambiciona. Ninguém abre os olhos. E lentamente, as batalhas que deveríamos lutar, são deixadas para trás. Esquecemos os pequenos combates que podemos vencer. Deixamo-nos ficar. E quando damos conta, o inimigo é mais forte que nós. Não demos conta do mundo. Não demos conta de quem somos. Não demos conta de nós próprios. E hoje perdemos todas as batalhas que enfrentamos. Não somos um vilão ou um herói. Não somos nada.
25.09.08
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
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