segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Não me deixo Definir

Estou aqui. Que mais tenho a dizer? Eu estou aqui. Estou de facto aqui. Não me quero ir embora. Não quero que me levem. Não quero que me tragam. Estou aqui.
Estou longe. Vejo o que tenho à minha frente e tenho consciência do que vejo. Mas será que sei o que preciso? Sempre sonhei e quis mais. Mas a minha consciência sempre andou por terrenos diferentes do meu corpo. Defendia-me com noções que desconhecia e pensava ter razão quando me apoiava em conceitos dados como certos. O meu subconsciente. O meu quê? Não sei do que falo. Prendo-me por entre palavras, noções, notas e números. Não passam de pequenos dígitos. Passes e ilegalidades habituais. Não me satisfaço com tudo isto. Não me entendo, não me compreendo, nem tenciono um dia alterar esta regularidade aleatória. Mas gostava, e isso confesso sem pudor, de entender onde estou. Onde estou eu?
Para onde vou?
Quem sou?
Entendo que sou um ser humano, preso por manias e costumes que me agradam. Mas já reparei, que metade daquilo que me dá prazer, provém de fetiches e clichés citadinos. E a outra metade, provém da minha condição humana; apesar de conhecer quem provoque e contrarie esta condição, que para mim é mais que certa. Entendo e não entendo, porque sou. Serei, apenas pelo facto de ser. Ou pela ideia, que me recuso a contrariar, de que sou alguém e que não posso não ser. Acredito no meu direito civil de ser um imbecil, mas contrario as regras que me são dadas por quem as fez. Pois ninguém acredita no que outros dizem. Temos de educar e plastificar a mente humana, para que obedeçam como ovelhas, que queremos que sejam. Quer dizer, eu não quero. No fim de contas, é me indiferente. Não sou um idealista nem um símbolo para por numa t-shirt ou numa parede simples. Eu sou eu.
Sou eu e não tu.
Tu és tu.
Na verdade, atrofio. Eu e o quatro mais um. Nada é certo. Mas a verdade, é que quatro mais um, são cinco. Sei que não tenho nada em que acredite piamente. O meu nome, foi me dado pelos meus pais. A sua legalidade está provada num papel. E contudo chamam-me de diminutivos, e já me apresentei com outro nome que não o meu. O meu nome não é certo. O meu futuro é incerto. O meu passado, é certo? Desconfio que não é. Pois não me lembro de tudo o que fiz. E já dei por mim a concordar que fiz e vi, algo que na verdade nem sequer se aproxima da verdade. Sou susceptível a ser enganado. Sou fraco. Sou idiota. Não me contenta saber que sou o único. Preferia ter alguém inteligente. Podia ser que este alguém, pensasse por mim. Que me obrigasse a cantar alto o seu hino. E que me fizesse abafar opiniões alheias. Mas ninguém é inteligente ao ponto de me abafar. Eu basto, para discordar de mim mesmo. Eu basto, porque eu limito-me pela minha condição. A condição humana.
O facto de ser o que sou
De ser quem sou.
Eu sou a espécie que me condiciona? Eu sou o tolo que me chamou de ser humano? Já foi há tanto tempo! Abafa e simplifica. Eu não sou o que me dizem ser. Tenho num papel, um nome, uma condição, um corpo e uma lógica por alguém criada. Não sou nada disso. Se alguém criou um nome, não está certo. Eu engano-me, e eu sou como tantos outros. Eu não acredito, eu não sou, eu nunca serei, tudo aquilo que me dizem ser. Porque não passam de conceitos, ideias e realizações de alguém, numa manhã fria. Debaixo de um sol abrasador. Molhado, por entre descobertas improváveis. Toquem-me, estou aqui. Mas não estou aqui, porque podem tocar. Estou aqui porque deixo que me toquem. Sou o que tenciono ser, e não o que dizem que sou. Eu sou eu. E não discutam mais. Não me entendam. Não me simplifiquem. Não me dêem uma etiqueta. Não me cansem e não me julguem. Eu estou completo. Eu sou correcto. Eu sou aquilo que quero ser. E não aquilo que me deixam ser.
Quatro mais um.
Dá cinco.
E isto, ninguém me tira. Nem isto, nem que eu sou eu. E que eu sou o que quero ser. E não o que me deixam ser.
E isto é certo para mim, para ti e para ele.

23.02.09

domingo, 25 de janeiro de 2009

Fecho os olhos e resta-me Ouvir

Contem-me histórias de um povo honesto e modesto. Contem-me histórias de uma cidade nas nuvens. Falem-me de gente com tradições e com cultura. Falem-me de um herói que se sacrificou pelos seus compatriotas. Quero ouvir o conto do tonto que por indecisão tudo perdeu. Quero ouvir a lenda do altruísta que tudo perdeu pois tudo deu. Historias. Preencham-me de histórias. Daquelas que são contadas antes de ir dormir. Daquelas que partilhamos, quando queremos ver o sorriso de uma criança. Contem-me histórias.
Mas não me digam que são histórias. Façam-me crer que são reais. Façam-me sonhar e pedir por mais. Façam-me adormecer com um sorriso, e com mil e uma aventuras por viver. Quero voltar a pensar. A imaginar o caminho alado em que voo com a minha montada. A mente de uma criança, sempre apta a questionar e a imaginar. Como a invejo. A minha já está oca, já se corrompeu, já envelheceu. Encho-me de indecisões e confusões. Esta é a minha vida. Um amontoado de rapidez, trabalho e silencio. Quero continuar a sonhar.
Quero continuar a criar mundos em segundos. A ver tudo o que não vêm. A dizer e a fazer o que melhor faço. A escrever e a crer que o mundo em que habito, não é aquele em que vivo. E que ao longe me aguardo uma estrela brilhante, onde nunca se envelhece. Ou que um bater de asas me traga uma boa noticia, para longe do normal. Quem sabe, apenas uma passagem e estarei longe. Noutro lugar, noutra dimensão. Noutro sentimento que não provem de um invento. Mas de uma realidade nova. Uma realidade diferente que enfrente.
Mas já ninguém conta histórias. A pressa para um novo dia. A velocidade da corrida e da alegria da mesma monotonia. Longe vai a lenda do cavaleiro fiel às suas tradições. Longe vai o espectáculo que mudou a minha maneira de ver a vida. Longe vão todas as promessas feitas e o desejo de ser diferente. As histórias morrem. Os sorrisos são indiferentes e não são sinceros. Agora tudo se rege pelo mesmo caminho. Todos caminham em fila e com destino certo. Ignoram o alto da montanha. O desafio da vida. A beleza que existe numa história por contar.
Ficam-se pela indiferença. Pela tristeza e pelo que podia ser. Resta-lhes a realidade. Terrível, impenetrável e fatídica realidade. Sem novidade, saudade ou qualquer verdade.

25.01.09

domingo, 11 de janeiro de 2009

Indiferente, Despreocupado

Não me quero chatear. Nem sequer preocupar. A verdade é que quero relaxar. Respirar. E perguntar: o que se passa? Não estou com medo. Não porque sou corajoso, mas apenas porque não preciso de recear o futuro. As coisas têm uma maneira de se arranjarem. Ao longo da minha vida, por várias alturas me levantei e descobri o caminho mais certo a seguir. Não acredito que as coisas se resolvam porque o tempo passa. O tempo passa, é inevitável. Mas o tempo não cura nada. O tempo não te permite ser mais livre, independente e feliz. E por falar nisso, deixo tempo passar. Ponho as mãos na consciência e ajo. O tempo é me indiferente. Eu sou o dono do meu destino. Das minhas acções. Dos meus desejos e vontades.
Não estou obcecado por nada. Não estou preocupado com nada, neste momento. Chamem-me insensível, pouco consciente e um tolo citadino. Mas a verdade é que não me vou preocupar com clichés da sociedade. Comover com imagens tocantes. E contribuir com um milésimo da minha riqueza. Não me vou justificar. Pratico o bem à minha maneira, obrigado. Sou como sou e não me chateio. Não me chateio comigo, pois sou competente e capaz, naquilo que tenho de ser. Chateio-me com os outros, pois não representam um décimo daquilo que são capazes; e nunca serão tudo aquilo que poderiam ser. Entristece-me, pois sinto-me vazio. Incompreendido. Insistente. Idiota. Ridículo e só.
Não penso com um enorme sim à minha frente. Não faço tudo como se hoje fosse o meu último dia vivo. Não. Mas sou tudo aquilo que quero ser. Tudo. Gostava apenas, que aqueles que me rodeiam, possam acompanhar o meu passo. E com isto, não digo que sou o exemplo perfeito. O homem mais livre. O indivíduo libertino da classe média, do novo milénio em que vivo. Não. Apenas sou eu próprio. E estou feliz assim. Que remédio, que solução, que mais pura desilusão. Que hei-de fazer? Que confiem em mim. Que oiçam o que digo. Que me sigam, pois navego por bons mares. Pois sou o comandante do meu corpo e alma. Dono do meu ser e vontade. Não minto ou sinto que vou por lugares traiçoeiros. Apenas quero ser ouvido. Escutado. Entendido e interpretado. Interpretem-me. Leiam o que escrevo e divulguem quem sou. Quero ser ouvido, apreendido e estudado.
Pode ser me oiçam e façam como eu.

11.01.09

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Sou, não sou e sou

Não sou um poeta. Não sou especial. Não sou diferente e nem sequer sou interessante. Sou eu mesmo. Não admito nada, não confirmo nada, desminto tudo. Não acredito nas mentiras dos outros e teimo em que acreditem nas minhas. Calculo e solvo problemas mentalmente e por vezes sugiro soluções estranhas a todos, menos a mim. Desconfio que todos temos um propósito neste planeta, excepto eu. E acima de tudo, gosto de não fazer nada e de ter tudo feito.
Não me dedico a nada que não queira fazer. Passa-me ao lado tudo aquilo que não gosto. Arrisco, raramente. Acerto, geralmente. E se falho, é porque estava sem atenção. Sou competente e penso que até conseguia algumas cartas de recomendação para por no meu currículo. Mas não tenho vontade de trabalhar, estudar ou intelectualizar os meus pensamentos em palavras. Não me preocupo se o fizer para o papel. E agora que vejo, é isso mesmo que estou a fazer agora.
Não sei até onde quero chegar e acredito vivamente, que desconheço até onde é que já cheguei. Mas penso que sou capaz de muito mais. Que sou capaz de raspar no topo do céu e voltar para contar a história. (Será que acreditavam em mim?) Sinto que sou capaz de tudo. Falta-me razão, motivação e sensação de que devo ser como posso ser. Porque não posso eu viver incógnito? Na minha cabana de madeira à beira da praia. Com o meu trabalho mal pago e um sorriso verdadeiro.
Não acredito que usei a palavra não para cada parágrafo deste excerto. Porque será que neguei três vezes quem sou? Será um presságio? (Maldito Pedro!) Nego muito o que tenho, e dou pouco valor ao que podia alcançar. Falta-me vontade, desejo e ambição. Não ambiciono o topo da árvore que me dá sombra. Fico feliz aqui, com os pés bem assentes na terra, perto das raízes que se agarram e não largam este planeta que é o meu. E agora, que faço eu com os meus pensamentos?
Sim. Sim nada. Digo sim porque estou cansado do não. Estou cansado do 4+1. Estou cansado de só fazer sentido para mim, mas de continuar a ser previsível e imperceptível. A vida no fundo é dos sortudos. É preciso é ter sorte. Tanta sorte… Raios é só ter sorte e somos felizes, alegres e rechonchudos.

25.12.08

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Vou Dizer, vou Fazer e sou

A sociedade está mal feita. Não sei se por culpa do criador ou de quem a fez. Mas é inegável, isto não anda a correr bem. Continuamos com pobres, continuamos com fracos, continuamos com a sujidade constante. Na minha opinião, isto precisava de algumas mudanças necessárias. Acho que ninguém devia ser obrigado a conviver com gente que não entende. Penso que ninguém devia ter uma casa maior que o necessário. Certos luxos são para deitar fora. Fora com os diamantes e os carros de luxo. Não somos assim tão ricos. Não me parece de todo lógico sermos capazes de nos agarrar a pequenos prazeres, que tiramos de objectos inanimados. Os pais são o exemplo errado a seguir, colocam os seus filhos em frente a ecrãs luminosos e consolas suadas e desactualizadas. Fazem-no constantemente, para calar os filhos. Já não te posso ouvir! Não me parece de todo correcto. Parece-me mal. Parece-me estúpido. Continuo a ver isto mal feito. Dizem que o sol nasce para todos, mas não o encontro nos lugares mais perigosos desta minha sociedade. Continua tudo escuro e abatido. Gosto de pensar, que isto vai melhorar. Mas a verdade é que olho para trás e encontro um prazer que hoje sou incapaz de sentir. Dou por mim a pensar no que falta. Mas concluo sempre, que hoje não falta nada, hoje temos a mais. Hoje as coisas não correm bem. Hoje não estamos bem. Eu por exemplo, estou em casa e lá fora o sol ilumina o lado contrário da minha fachada. Tenho frio. Está escuro. Os altos prédios tapam toda a luz. Os carros passam e apitam abaixo do parapeito da minha janela. Encontro, nisto tudo, uma enorme graça. Encontro sempre um prazer repentino não em quem devia ser, mas no que já não vou ter de fazer. Tudo é desligado. Tudo é impraticável. Não tenho nenhuma experiencia em nada. Não devia estar aqui. Não devia estar ali. Nem devia sequer existir! Não gosto de me ver em nenhum lado. Não gosto de ter sempre de ir para todo o lado comigo. Mas gosto sempre de todos os recantos inabitáveis desta minha sociedade. Esses lugares imaginados e pré-fabricados que enchem-me com um calor comum de recompensa. Eloquência. Que falta de originalidade! Gostamos todos do mesmo. Mas aparentemente, somos todos diferentes. E depois voltamos a ser todos iguais. Somos como bem nos apetece. Somos como nos deixam ser. Somos uns imitadores sem originalidade nenhuma. Somos umas máquinas autênticas. Somos feios. Desperdiçamos tudo o que é belo. Fomos formatados para gostarmos de coisas electrónicas. Fomos formatados para gostarmos de classe e requinte, apesar da sua inutilidade óbvia. Fomos criados para gostarmos de tudo, menos de nós próprios. E continuo com este discurso, obviamente inútil. Obviamente fútil. Obviamente feito por mim. Acho na realidade e agora falando a sério, que devíamos todos ser mafiosos. Devíamos todos andar na rua de metralhadora na mão e com um chapéu daqueles cinzentos, pelo menos sempre assumi que eram cinzentos. Mas é de duvidar, pois todos os filmes da época eram a preto e branco. Acho que devíamos todos ter ar de maus, assim ninguém tinha medo de ninguém. Acho também que devíamos juntar os malucos com os lúcidos e dar uma festa de arromba. Imagino que as conversas deviam durar semanas inteiras. Acho que o barulho desnecessário devia ser banido e que toda a gente devia vestir cores alegres e vivas. Acho também que devia haver o mínimo de escolaridade, e os professores eram crianças e os alunos eram idosos. Deviam haver também uns pedaços de relva para todos os casais apaixonados e uma quinta grande para todos os animais. Vejo e revejo claramente tudo isto, concordo e continuo a pensar. Uma parte de mim entra em discórdia na parte dos cozinheiros, mas penso que febras e frango deviam ser a comida de eleição e que todos deviam andar de avental. Acho que se devia separar as pessoas consoante o estado de espírito. Os românticos para um lado, os desiludidos para outro e por aí fora. Penso que seria inteligente porem filmes dramáticos sempre a dar na zona dos apaixonados. Acho também que era produtivo colocar as famílias junto das pessoas tristes. E a gente bem sucedida ao pé dos mal sucedidos. E depois de umas boas horas assim, trocava-se a ordem. Mas não seria inteligente colocar filmes dramáticos junto das famílias. Acho simplesmente triste se tal acontecesse. Ah, e penso também que o suicídio devia ser uma coisa permitida e que ninguém devia morrer de morte natural. Toda a gente, assim que achasse que tudo tinha corrido bem, matava-se. Pelas suas próprias mãos. A festa era contínua, a maldade não existia e ninguém tinha medo de ninguém. Baníamos sentimentos inúteis e fazíamos toda a gente feliz a toda a hora. Não preciso de mais nada. Não imagino mais nada. Perco algum tempo a visualizar esta minha visão e não consigo deixar de sorrir. Sorriu, porque não imagino de onde vem todo este mundo. Terei eu imaginado? Terei eu viajado para outro mundo sem saber? Terei eu visto em algum filme? Ou talvez seja tudo um sonho. O que quer que seja, que bonito que era.

14.10.08

domingo, 12 de outubro de 2008

Dêem-me ou deixem-me Dar

Dêem-me a eternidade. Dêem-me tempo. Dêem-me um sorriso contagiante. O que me poderem dar, que dêem. Não vos prometo que serei um herói ou um vilão. Não prometo nada a ninguém. Estou farto de promessas por cumprir. Só quero subir alto e apagar todos os monstros voadores que me atormentam. Não quero continuar assim, imóvel. Eu vou reagir. Dêem-me algo. Algo real e verdadeiro. Não quero mais mentiras electrónicas e quadros em demasia. Quero a realidade. Quero algo útil. Quero a sinceridade. Quero tudo aquilo a que tenho direito. Falta-me tempo para ser tudo aquilo que podia ser. Basta-me ocupar a minha vida com tudo aquilo que ainda posso ser.
Gesticulo a sinceridade e a honestidade em mímica. Ninguém me entende. Ninguém me vê. Ninguém consegue perceber o desenho que coloco neste cartaz branco. A minha equipa vai perder. Desenho um mundo belo mas ninguém o vê para além de mim. Perdemos. É tão mau perder. É tão desgastante e cansativo. Como se nos tirassem o chão. Como se nos arrancassem a esperança e o prazer. Não gosto de perder. Não vou perder. Mas vou, a partir de agora, escolher as minhas batalhas. Ignoro então, todos os desafios inúteis e fúteis que se colocam a minha frente. Ignoro toda a gente que se acha humana e pede por ajuda. Lanço um ar despreocupado. Não tenho nada haver com os teus problemas. Franzo o sobrolho e passo ao lado. Esta não é a minha batalha. Não vou perder tempo, desculpa. Escolho os meus combates agora. Tudo aquilo que é desnecessário e que não me diz respeito, passa-me ao lado. Mas todo este desprezo ataca-me em demasia. Sinto-me diferente. Insensível ao mundo. Inumano. Sem alma. Não. Não posso apenas combater a minha guerra. Tenho que lutar na guerra de outros. Tenho que ser humano. Tenho que ajudar e ser ajudado. Eu não sou uma ilha.
Levanto-me, mais uma vez. (Quantas vezes é que já me levantei neste meu percurso literário?) Dedico o meu tempo a ajudar quem posso. Não sou indiferente ao mundo. É verdade que só tenho uma vida. E que seria tolo da minha parte desperdiça-la, preocupado com os outros. Mas preocupo-me, mesmo sem querer. Não consigo deixar de lado esta sensação de bondade que invade a minha alma. Será que ajudo o próximo, pelo gosto de ajudar ou pelo sentimento belo do altruísmo? Talvez o faça pelo sentimento de agradecimento e recompensa. Talvez não seja uma boa pessoa. Talvez só ajude quem precisa, porque gosto que me agradeçam. Sim, sabe sempre bem quando me agradecem. Quando sorriem e se mostram para sempre endividados. Que sensação tão má, sentir-me assim! Que estado de espírito tão malcriado e insensível. Sou animal, sou repugnante, sou humano. Que se lixe, sou eu mesmo.
Sinto uma leve vibração. Sinto as palavras a escorrerem da minha mente. Como mel numa superfície inclinada. Lentamente. Como se não houvesse pressa. Ninguém me vai parar. Deixem-me andar. Coloco-me no meio da multidão. Sou invisível ao mundo. Sou indiferente. Ninguém nota em mim. As palavras ainda escorrem da minha mente. Será que sou assim tão inspirado? No fundo, não faço nada. Limito-me a traduzir tudo aquilo que é dito na minha mente. E escrevo. Ponho em palavras tudo aquilo que a minha mente conta e relata. Cada vez mais, acredito que estou louco. Se escrevo tudo aquilo que a minha mente deixar passar, então estou certamente maluco. Leio o que escrevo. É tudo tão perdido e difuso. E fui eu que escrevi tudo isto! Serão traços de loucura, que invadem a minha simples consciência? Terei eu sido apanhado pela doença contagiante que ataca quem nada tem a perder? Também eu gostava de ter respostas da minha consciência. Tenho tantas perguntas... Gostava de ser ouvido por alguém que só quer apenas o meu bem. Mesmo que esse alguém não perceba o que é a loucura, o amor e a liberdade.
Mesmo assim, gostava que alguém me ouvisse. Alguém humano. Alguém real.

12.10.08

domingo, 5 de outubro de 2008

Não te vou mentir ou enganar

Vá, a verdade é que estou cansado. Um bocado farto de tanta frustração e cansaço. Só me apetece sorrir. Experimentar novas coisas e apenas ser feliz. É claro que o mundo está uma merda. Isso é inegável. E depois? Admito que não vou ser eu a limpa-lo. Mas também não vou ser um idiota insensível. Não vou piorar. Não vou ser um animal. Sou humano. Mas também não me vou esforçar e encarar de frente, tudo aquilo é preciso ser feito. Acredito verdadeiramente que podemos e devemos lutar por um mundo melhor. Mas não contem comigo. Sinto que estou a fazer o meu papel, aqui e agora, quando escrevo. Quando traduzo por palavras tudo aquilo que sinto e acredito. Quando crio textos e crónicas sobre a minha impressão e opinião sobre a realidade. Sobre o que deve ser feito e o que está por fazer. A verdade é que não vou fazer mais que isso. Não vou liderar multidões. Não vou inspirar jovens. Não me vou levantar e gritar bem alto aquilo em que acredito. Não. Estou bem assim. Gosto de quem sou. Gosto do reflexo que vejo ao espelho. Encontro prazer em pequenas coisas da vida. E todos os sonhos ambiciosos que me atacaram no passado, dia e noite, acabaram por morrer. Hoje, já não fazem sentido. São ocos. Inúteis. Para quê ambicionar por muito, quando se é feliz com pouco? Não. Não quero isso. Quero continuar a sorrir, com a vida que tenho. Quero ser feliz, sem mudar um único aspecto de quem sou e no que acredito. Estou cansado de ser assombrado pelo meu passado. Cometi erros, é claro que sim! Não sou perfeito. Porra, não sou! Ninguém é. E eu não sou excepção. Foi difícil chegar até aqui, mas sou um homem de fé. Não me limitei a acreditar. Vivi. Conheci e lutei por uma vida melhor. E hoje estou bem. Hoje consigo sorrir. Hoje estou vivo e feliz.
E estou cansado. Muito cansado de tanta tristeza e indecisão. Tanta violência e confusão. Não consigo suportar mais. Sou lúdico. Sou vivo. Sou feliz. De que me queixo? Não sou inculto e consigo pensar por mim próprio. Eu tomo as minhas decisões. Ninguém me impede de ser como sou. E tenho orgulho em quem sou. Tenho orgulho nas minhas decisões. Na minha vida. No presente em que vivo. E encontro sempre um calor que me aquece em momentos tristes. Talvez seja egoísta. Talvez seja errado da minha parte, não dedicar a minha vida ao ambiente, à revolução ou a outra causa nobre. Não sou um desperdício total. Eu não contribuo para piorar as coisas. Mas certamente que não me vou cegar, obcecar e dedicar-me a causas maiores que eu próprio. Tudo isso é muito bonito. Tudo isso é muito justo. São mudanças que precisam de ser feitas. São causas que precisam de ser apoiadas e suportadas por todos nós, sem excepção. Mas não para mim. Eu sou a excepção a esta regra em que acredito verdadeiramente. Eu estou bem como estou, obrigado. Não sou insensível ao mundo. Simplesmente não estou convencido. Não me sinto obrigado a ser tudo aquilo que esta realidade precisa. E não vou representar tudo aquilo que podia ser. Já passou essa altura em que me precisava de acreditar que seria útil e humano. Em que gastava horas a prometer que iria morrer por uma causa. Hoje não. Hoje já não sou assim. O mundo não me foi buscar quando eu acreditava na mudança e no progresso. Ninguém reparou em mim. Ninguém me ouviu e admirou todas as verdades que conhecia. Ninguém fomentou todas as teorias da conspiração que ocuparam a mente por dias e semanas. Meses. E hoje, tudo isso parece-me distante. Indiscreto. Impessoal. Indiferente.
Eu fiz a minha escolha. Não quero convencer ninguém a juntar-se a mim. Não quero dizer que estou certo ou errado. Não quero que concordem os discordem da minha decisão. Quero apenas que me respeitem. Eu sou eu, tu és tu. E eu sou indiferente ao mundo. Eu só quero viver, em paz.
E é tudo. Obrigado por me entenderem.

05.10.08

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O meu lado Violento

Não te vou mentir. O mundo é um lugar cruel. E a verdade é que gostava de te poder ajudar. De te poder proteger de tudo o que vais enfrentar. Gostava de ter a certeza que nunca te vão magoar. Gostava de poder estar ao teu lado. Mas não te prometo nada. Não te vou mentir. O mundo é um lugar nojento. Feio e sujo. Mas nem tudo é mau. Claro que tens momentos bons. Mas acredita, quase que não vale a pena. Passamos os nossos primeiros anos a estudar. E nem metade do que aprendemos tem utilidade para a nossa vida futura. Esquecemo-nos facilmente de tudo o que estudámos. Não somos aceites, se formos minimamente diferentes. Se formos menos inteligentes. Menos ricos. Menos bonitos. E pior que tudo isso, é o que vem a seguir. Somos assombrados pelo pensamento. Escolhas. O que queremos nós? O que temos nós? Para que servimos. Não sabemos. Começamos a procurar a lógica neste mundo. Queremos algo que valha a pena. Algo de jeito. Mas não temos nada. Nada de jeito para fazer. Não somos ninguém. Somos uns perdidos. E por isso mesmo levantamo-nos. Decidimos que não nos vamos deixar abater. Pensamos que somos fortes e corajosos. Achamos que vamos mudar o mundo. Enchemos a cabeça de ideias altruístas e bem intencionadas. Compramos uma t-shirt de um revolucionário com barba. Veneramos filmes inspiradores. E ouvimos música até nos cansarmos. Acreditamos que uma pessoa faz a diferença. Adiamos alguns projectos e vamos trabalhar. Perdemos tempo com coisas disparatadas e idiotas. E cada vez mais sentimo-nos perdidos. Encontramos reconforto no amor. E perdemo-nos com os pequenos luxos que nos fazem esquecer que tudo isto é uma grandessíssima merda!
Falo contigo desta vez, mais uma vez, porque estou desiludido comigo mesmo. Criei ao longo destes anos uma ideia de uma vida que não é a minha. Enganei-me vezes sem conta. E sinto-me cada vez pior. E hoje, não te vou mentir. A vida é uma merda. Ah, ah. Sinceramente, não faço ideia do que é bom neste mundo! Gostava de ser mais optimista. Gostava de encontrar prazer num jantar em família ou num encontro com a namorada. Mas a verdade, é que estou completamente morto. Não me sinto bem. Não me sinto vivo. Sinto uma necessidade extrema de ser violento. De me passar e destruir tudo o que me apareça a frente. Sinto uma necessidade de trair os meus princípios, amigos e família. Apetece-me estar longe desta merda toda! Mas por enquanto, estou aqui. Gostava que nunca tivesses de sentir o que sinto. Gostava que a tua vida fosse coberta de boas recordações, amigos verdadeiros e sorrisos constantes. Mas não vai ser. Vais sofrer. E vai doer muito. Vais verter lágrimas mais que uma vez. Ah, ah, é a verdade! E se tiveres força, vais responder. Vais lutar. Vais gritar com toda a gente. Vais agarrar alguém pelo pescoço. Vais bater em alguém. Porque, quer queiras quer não, o mundo não é um lugar simpático. É a merda de uma selva! Se calhar vais ter a sorte de viveres num pequeno lugar, onde todos sorriem, dizem olá e tratam-se bem. Gostava de um dia poder visitar um sítio desses. Acho que acabaria por me entediar. Mas quanto a ti, duvido seriamente que tenhas essa sorte de poderes morar num sítio assim. Basta parar e olhar para a nossa vida. Não somos ricos. Não somos famosos. E, encaremos a realidade, não somos lá muito inteligentes. Somos animais violentos e cruéis. E a selva, é o nosso mundo. Basta-nos apenas procurar uma maneira de vencermos. De não sermos comidos vivos por um bicho qualquer, cruel e violento. Espero que venças. Espero que dês luta. E que nunca baixes a cabeça. Gostava de te poder proteger de tudo. Mas não sou capaz. E na verdade, estou mais preocupado comigo. Ah, ah!
Fodam-se! Matem-se! Sejam malcriados. Mexam-se. É cada um por si. Peguem num pedaço de ferro e partam vidros, estalem paredes, deitem a vossa raiva para fora. Façam caretas, digam asneiras. Estamos a enganar quem? Que se foda! Ninguém disse que o mundo era um lugar agradável e simpático. Estão vivos e só sabem é queixar-se e fazerem-se de coitados. Fodam-se! Vivam! Ah, ah. Sorriam seus ingratos!

3.10.08

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Fugir, de todas as maneiras que poder

Ponham-me no chão. Batam-me até cair e não me conseguir levantar. Dou-me por vencido. Quero beber até não me lembrar de quem sou. Quero fumar tudo o que tiver à mão. Gostava tanto de me abstrair e de fugir. De poder dançar em qualquer lado, sem problemas de expressão. Gostava de não ser eu mesmo. Hoje saturei da cara que sempre me olha ao espelho. Fiquei cansado da mesma face. Das mesmas pessoas. Da mesma casa. Da mesma cidade. Gostava de partir do zero. De mudar drasticamente os meus hábitos. De alterar a minha vida e fugir para algum lado. Com uma nova cara e uma nova família.
Cansa-me saber quem sou e do que sou capaz. Cansa-me admitir que não sou uma pessoa adorável e educada. Sou capaz de magoar e enganar. E sei, que no primeiro momento que precisar, vou trair tudo e todos para alcançar o que quero. Para mim, os meios justificam os fins, mas apenas quando sou eu a alcança-los. Tenho potencial. Disso não tenho dúvidas. E estou vivo. Falta-me apenas inspiração para ser mais do que posso ser. Falta-me vontade de alcançar a glória e de não me preocupar tanto com o processo. Acredito que tenho um carácter de líder. De vencedor e lutador. Mas estou desmotivado.
Parece que o sistema me apanhou. Hoje obedeço a leis morais e estatais. Hoje calo-me e sinto-me vazio. Hoje estou em silêncio e de luto. Hoje morri para o mundo. Já não sirvo para nada. Sou um número. Sou um sorriso. Estou no meu canto. Calado e silenciado. Mas estou-me a fartar. Esta vida de incógnito cansa-me. Não há qualquer glória. Não há noção de realidade. Não há conquista ou repercussão. Há apenas uma realidade, a minha e a de toda a gente que vive sem refilar ou protestar.
Gostava de não viver neste corpo domesticado. Gostava de poder abandonar esta face, por algumas horas. Gostava de fazer as malas e sair daqui. Gostava. Mas não faço nada. Também eu sucumbi a todos estes prazeres terrenos. Vou fugir daqui. Vou-me embebedar. Vou ser espancado até cair para o lado. Vou tomar drogas. Vou entrar neste mundo de pé, mas cair por falta de forças. Não quero mais estar aqui. Cansei-me desta realidade. Cansei-me de tanto pensar que todos nós somos fortes e imortais. E hoje, hoje quero cair. Quero admitir que sou incógnito. Que vou morrer um dia e que ninguém se vai importar. E pior que isso. Pior que ser ignorado depois de morto, é ser-se esquecido enquanto se é vivo. E é assim que me sinto.
Sinto que alcancei todos os que estão a minha volta. Que os mudei e marquei. Que fiz tudo para desenvolver a minha personalidade. Sinto que hoje não sou oco e inútil. E mesmo assim, não consigo deixar de admitir: não sou ninguém.

29.09.08

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Heróis e Vilões

Confesso que a esperança já morreu. Mas não posso transparecer isso. Não me posso deixar levar pelo sentimento. Tenho que dar cara de vencedor. Tenho de sobreviver ao inesperado. Tenho que parecer forte. Não me vou deixar abater. Vou continuar de pé. Mas a verdade, é que a esperança já morreu. E hoje estou aqui, não porque tenho força, mas porque ainda não tive a coragem de desistir. Sei que um dia vou morrer. E não temo esse dia. Temo apenas, o dia em que entender que vou morrer e que ninguém vai dar por mim. O dia em que não serei mais do que um anúncio no jornal, na folha dos obituários.
Não quero morrer incógnito. Gostava de me poder imortalizar. Mas cada vez mais acho tolo e impessoal, este desejo meu. O mundo recorda o bom, tão depressa quanto o mau. Muitos são capazes de mencionar ditadores violentos, psicopatas, assassinos, violadores, criminosos de toda a espécie. Todos eles serão recordados pela crueldade com que viveram as suas vidas. Uns mais que outros. Serão recordados com mau olhar pelos incultos, questionados e estudados pelos cultos e simplesmente ignorados pelos ignorantes. Mas têm um lugar na história. Isso é certo. Têm uma data marcada, no gigante mapa de um livro de história mundial. Têm o seu lugar na enciclopédia, cheia de hiperligações para as suas vidas, ideologias e atitudes enquanto seres vivos.
Talvez seja só eu a sentir-me assim, mas a verdade, é que não consigo mencionar o nome de muita gente que tenha praticado apenas o bem. Toda os nomes que me ocorrem tinham sempre algo mais na mente. Se uns lutavam pela liberdade, faziam-no apenas pela liberdade do seu povo e não pela liberdade mundial. E a liberdade plena pela qual lutavam, começava onde a de outros acabava. Se uns lideravam o seu exército no campo de batalha por uma causa justa, tinham apenas em mente a vitória e não a violência praticado sobre o povo vencido. E mesmo aqueles que passaram uma vida a praticar o bem, encontro pouco ou nada que os tenha motivado para agirem assim. Ocorre-me apenas uma recompensa monetária, um prémio anual ou um altruísmo extremo que sinto que não existe neste planeta.
Penso, cada vez mais, que os vilões são estudados até ao mais pequeno pormenor. E que os heróis são louvados, acima daquilo que representam. Os heróis que são lembrados pelo que fizeram em vida são sempre representados como altruístas extremos que só querem o bem. E a realidade não é assim. Muitos deles apenas obedecem a ordens. Não são tão bons quanto os pintamos. Mas cresci com histórias de heróis. Seres astronómicos, semi-deuses, cultos do além. E sempre procurei neles um exemplo a seguir. E não vejo no heroísmo um completo altruísmo. Não. Admiro tanto aquele que dedicou a sua vida à sua família, como aquele que combateu para uma nação que nunca teve tempo para amar. Porque ambos, com justa causa, são capazes de agitar as próprias fundações do planeta Terra.
Não me falem de um herói lendário, que o próprio nome me agita o ser. Não me falem de guerras e de momentos míticos. Não me fazem de gente em missões e em revoluções. Acredito que qualquer um pode ser um herói, se tiver uma batalha para combater. Uma batalha justa e honesta, onde um homem faça a diferença. E onde a recompensa não é representa por um metal raro ou uma bandeira colorida. Não. Apenas uma batalha. Um combate. Uma disputa. Mas hoje não há guerras deste género. O mundo foi reduzido a um destino sem retorno. Cada um satisfaz-se com o que tem. Ninguém ambiciona. Ninguém abre os olhos. E lentamente, as batalhas que deveríamos lutar, são deixadas para trás. Esquecemos os pequenos combates que podemos vencer. Deixamo-nos ficar. E quando damos conta, o inimigo é mais forte que nós. Não demos conta do mundo. Não demos conta de quem somos. Não demos conta de nós próprios. E hoje perdemos todas as batalhas que enfrentamos. Não somos um vilão ou um herói. Não somos nada.

25.09.08