terça-feira, 14 de outubro de 2008

Vou Dizer, vou Fazer e sou

A sociedade está mal feita. Não sei se por culpa do criador ou de quem a fez. Mas é inegável, isto não anda a correr bem. Continuamos com pobres, continuamos com fracos, continuamos com a sujidade constante. Na minha opinião, isto precisava de algumas mudanças necessárias. Acho que ninguém devia ser obrigado a conviver com gente que não entende. Penso que ninguém devia ter uma casa maior que o necessário. Certos luxos são para deitar fora. Fora com os diamantes e os carros de luxo. Não somos assim tão ricos. Não me parece de todo lógico sermos capazes de nos agarrar a pequenos prazeres, que tiramos de objectos inanimados. Os pais são o exemplo errado a seguir, colocam os seus filhos em frente a ecrãs luminosos e consolas suadas e desactualizadas. Fazem-no constantemente, para calar os filhos. Já não te posso ouvir! Não me parece de todo correcto. Parece-me mal. Parece-me estúpido. Continuo a ver isto mal feito. Dizem que o sol nasce para todos, mas não o encontro nos lugares mais perigosos desta minha sociedade. Continua tudo escuro e abatido. Gosto de pensar, que isto vai melhorar. Mas a verdade é que olho para trás e encontro um prazer que hoje sou incapaz de sentir. Dou por mim a pensar no que falta. Mas concluo sempre, que hoje não falta nada, hoje temos a mais. Hoje as coisas não correm bem. Hoje não estamos bem. Eu por exemplo, estou em casa e lá fora o sol ilumina o lado contrário da minha fachada. Tenho frio. Está escuro. Os altos prédios tapam toda a luz. Os carros passam e apitam abaixo do parapeito da minha janela. Encontro, nisto tudo, uma enorme graça. Encontro sempre um prazer repentino não em quem devia ser, mas no que já não vou ter de fazer. Tudo é desligado. Tudo é impraticável. Não tenho nenhuma experiencia em nada. Não devia estar aqui. Não devia estar ali. Nem devia sequer existir! Não gosto de me ver em nenhum lado. Não gosto de ter sempre de ir para todo o lado comigo. Mas gosto sempre de todos os recantos inabitáveis desta minha sociedade. Esses lugares imaginados e pré-fabricados que enchem-me com um calor comum de recompensa. Eloquência. Que falta de originalidade! Gostamos todos do mesmo. Mas aparentemente, somos todos diferentes. E depois voltamos a ser todos iguais. Somos como bem nos apetece. Somos como nos deixam ser. Somos uns imitadores sem originalidade nenhuma. Somos umas máquinas autênticas. Somos feios. Desperdiçamos tudo o que é belo. Fomos formatados para gostarmos de coisas electrónicas. Fomos formatados para gostarmos de classe e requinte, apesar da sua inutilidade óbvia. Fomos criados para gostarmos de tudo, menos de nós próprios. E continuo com este discurso, obviamente inútil. Obviamente fútil. Obviamente feito por mim. Acho na realidade e agora falando a sério, que devíamos todos ser mafiosos. Devíamos todos andar na rua de metralhadora na mão e com um chapéu daqueles cinzentos, pelo menos sempre assumi que eram cinzentos. Mas é de duvidar, pois todos os filmes da época eram a preto e branco. Acho que devíamos todos ter ar de maus, assim ninguém tinha medo de ninguém. Acho também que devíamos juntar os malucos com os lúcidos e dar uma festa de arromba. Imagino que as conversas deviam durar semanas inteiras. Acho que o barulho desnecessário devia ser banido e que toda a gente devia vestir cores alegres e vivas. Acho também que devia haver o mínimo de escolaridade, e os professores eram crianças e os alunos eram idosos. Deviam haver também uns pedaços de relva para todos os casais apaixonados e uma quinta grande para todos os animais. Vejo e revejo claramente tudo isto, concordo e continuo a pensar. Uma parte de mim entra em discórdia na parte dos cozinheiros, mas penso que febras e frango deviam ser a comida de eleição e que todos deviam andar de avental. Acho que se devia separar as pessoas consoante o estado de espírito. Os românticos para um lado, os desiludidos para outro e por aí fora. Penso que seria inteligente porem filmes dramáticos sempre a dar na zona dos apaixonados. Acho também que era produtivo colocar as famílias junto das pessoas tristes. E a gente bem sucedida ao pé dos mal sucedidos. E depois de umas boas horas assim, trocava-se a ordem. Mas não seria inteligente colocar filmes dramáticos junto das famílias. Acho simplesmente triste se tal acontecesse. Ah, e penso também que o suicídio devia ser uma coisa permitida e que ninguém devia morrer de morte natural. Toda a gente, assim que achasse que tudo tinha corrido bem, matava-se. Pelas suas próprias mãos. A festa era contínua, a maldade não existia e ninguém tinha medo de ninguém. Baníamos sentimentos inúteis e fazíamos toda a gente feliz a toda a hora. Não preciso de mais nada. Não imagino mais nada. Perco algum tempo a visualizar esta minha visão e não consigo deixar de sorrir. Sorriu, porque não imagino de onde vem todo este mundo. Terei eu imaginado? Terei eu viajado para outro mundo sem saber? Terei eu visto em algum filme? Ou talvez seja tudo um sonho. O que quer que seja, que bonito que era.

14.10.08

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